Título Original: O Filho do Dragão (#7 A Saga das Pedras Mágicas)
Autor: Sandra Carvalho
Editora: Editorial Presença
Número de Páginas: 468
Sinopse
Após a cruenta batalha
que reduziu a Ilha dos Sonhos a cinzas, Kelda, filha do Rei da Lua e da
Rainha do Sol, assume-se como Sacerdotisa dos Penhascos, a fim de salvar
o seu povo do ferro e do fogo dos inimigos. Durante a longa viagem que a
levará à Terra das Montanhas de Areia, a jovem guerreira, eleita
decisora pela Pedra do Tempo, interroga-se se irá encontrar Halvard, o
seu irmão gémeo, marcado pelo destino para concretizar a profecia do
Filho do Dragão. Kelda acalenta a esperança de que ainda será possível
desviá-lo do trilho da perdição. Contudo, antes terá de combater Deimos,
o rei do Povo do Fogo, assim como Sigarr, o terrível feiticeiro que
raptou Halvard quando este era criança
Opinião
A Fantasia em Portugal tem ganho cada vez mais notoriedade
através de jovens escritores e sagas que podem bem comparar-se a muitas das
obras do género que têm proliferado pelo estrangeiro.
Entre esses autores, Sandra Carvalho ganhou um lugar especial
na minha estante com a sua Saga das
Pedras Mágicas, uma saga inicialmente composta por 7 livros mas que terá um
oitavo volume. Com inspirações em Juliet Marillier e uma visão própria da
mitologia viking e do cenário celta, a autora portuguesa tem colocado a sua
marca no panorama nacional com esta saga para todas as idades e tem levado a
imaginação dos seus leitores por aventuras incontornáveis através de gerações de
uma família de poderes espantosos.
Quando li A Última
Feiticeira, não sabia o que havia de esperar. Se o início me relembrou
imediatamente uma das mentes brilhantes do género, Marillier, ao longo da sua
leitura, a escritora marcou-me pela sua imaginação e pela forma como conduziu
esta história sobre amor, amizade e laços de família. Foi com ansiedade que
esperei e desesperei por este último volume que para mim demorou demasiado
tempo a chegar-nos e, confesso, foi com algum desagrado que soube que não
terminaria por aqui. Contudo, não consegui evitar pegar neste livro para uma
leitura frenética e foi com prazer que revi algumas das minhas personagens
preferidas.
Quem segue esta saga, tal como eu, não esperaria o rumo que
este livro levou. Com um ritmo fluído e o estilo a que já nos habitou, a autora
leva-nos numa viagem incansável por terras desconhecidas e pelo mais negro que
esta história tem. Apesar das opiniões gerais, não acho que este livro tenha
tido pouco desenvolvimento, pelo contrário, acho que este volume era necessário
para esclarecer muitas das dúvidas que me têm assolado, mesmo desde o início da
saga, e entre revelações bombásticas, decisões e momentos marcantes, a autora
pisa um território que poucos autores se atrevem a pisar, explicar o porquê da
malvadez dos vilões.
Foi com entusiasmo que observei as diferenças entre o bom e
mau, e acho que foi um golpe de génio a autora ter querido dar-nos a outra face
dos seus vilões, demonstrando que afinal as linhas na sua história não são tão
lineares quanto parecem. Sendo eu uma fã do Sigarr, gostei de o ver noutro
prisma e conhecer mais a fundo o que os aprendizes de Arte Obscura sentem pelo
seu mestre, a sua dinâmica e relações. A personalidade de Halvard, aqui
desvendada, foi um dos marcos deste livro pois estava com receio que a
escritora destruísse a imagem que se criou dele e afinal fez aquilo que eu
queria, transmitindo ele tudo o que os seus vilões juntos podiam transmitir.
Sendo um livro para se ler rapidamente, não tem momentos
parados e concerne, para mim, alguns dos melhores momentos da saga, tendo dado
oportunidade para demonstrar que Kelda é um aprimoramento das protagonistas da
autora. A paixão inerente a todas as personagens da escritora é uma das coisas
que me faz adorar esta saga e mais uma vez ela não me desiludiu. O crescimento
e mudança nas personagens mais antigas, o descobrimento de novas personagens pautam
este livro de uma carga emocional diferente da que o leitor estaria habituado
mas mantendo a beleza de toda a história dos herdeiros de Aranwen.
Com um enredo mais negro e obscuro, agradou-me a forma como
a autora construiu o “outro lado” da história mas para uma fã da saga, alguns
destes momentos podiam ter sido mais aprofundados e outros evitados. A história
de Kelda já é tragédia suficiente para ainda se lhe acrescentar todo o novo
panorama que o livro apresenta. Se alguns momentos mereciam ser evoluídos de
outra forma, se outros não me convenceram, é devido a uma sucessão de
acontecimentos quanto a mim, evitáveis. Ao sair da zona estável, a escritora
espalhou-se um bocado no desenvolvimento e algumas coisas não são coerentes o
suficiente para passarem ao lado do leitor atento.
Outra coisa, há alguns detalhes que precisam de ser
explicados urgentemente porque dá a sensação nalgumas partes que certos
acessórios ou alucinações não fazem sentido nenhum para história e que podiam
ter sido explicados. É bom poder imaginar o para quê mas no fundo o leitor quer
uma resposta que o surpreenda rápido.
Mesmo assim, aguardo o último volume para me tirar algumas
dúvidas e espero que a Sandra termine esta saga com chave de ouro pois tem
protagonista e história para isso. Como leitora, não me senti tão satisfeita
com este volume, como fã, estou ansiosa por mais e espero que não demore, por
favor.
6*