Opinião
Nasceu em Nova Jérsia em 1938, filha de um dentista e de uma
dona de casa. Foi para Nova Iorque, onde acabou o curso em 1961 para ser
professora primária e se casou com um advogado com quem teve dois filhos e do
qual se divorciou no final dos anos 80. Judy casou em segundas núpcias com um
professor com quem se mudou para a Flórida onde ainda vive. A sua carreira
enquanto escritora começou como uma necessidade de preencher o vazio que a vida
de mãe e dona de casa não preenchia. Inscreveu-se num curso de Escrita Criativa
e depois de vários contos publicados em revistas, em 1970, conseguiu publicar o
seu primeiro livro.
Autora de livros para crianças e adolescentes, Judy Blume é
conhecida pelas suas obras polémicas que abordam não só o início da sexualidade
como o bullying ou o racismo. Devido a forma natural e espontânea com que lida
com estes temas tabu, Judy foi censurada diversas vezes, o que a levou a
juntar-se a Coligação Nacional Contra A Censura Norte-Americana. A verdade é
que a autora já escreveu mais de 30 livros, vendeu mais de 80 milhões de cópias
e já foi traduzida para mais de trinta países.
Irmãs de Verão,
publicado em 1998, é um dos seus três livros para adultos e já foi traduzido
para mais de 35 línguas. É o segundo livro da autora publicado em Portugal e o
único para adultos.
Imaginem um Verão. Imaginem um local paradisíaco para onde
pudemos fugir e libertar-nos. Imaginem um local onde somos tão felizes,
selvagens e apenas nós. Elas encontraram-no. Unidas por um local, por uma
estação, por amores, elas são mais que melhores amigas, elas são irmãs de
Verão. Juntas vão descobrir-se, apoiar-se, viver cada dia para o puderem
recordar até regressarem. Vix e Caitlin vão crescer unidas pelo sol, pelos primeiros
amores, pelos sonhos, até ao último Verão, até a separação, até que um rapaz
muda tudo. Anos depois elas têm questões por resolver, segredos por revelar,
mentiras para esclarecer. Mas o que as une é ainda tão quente quanto o sol que
as uniu.
Tive a sorte de ter lido Judy na altura dos meus catorze
anos. Agora depois dos vinte, posso relembrar a sua escrita, olhar com outros
olhos para as suas histórias, recordar o que senti e descobrir novas sensações.
Esta autora, infelizmente, tão pouco lida por cá, marca-nos de uma maneira que
só os que compreendem o tumulto, a loucura, a ansiedade da adolescência podem
marcar. Ao ler um livro seu, sabemos que somos compreendidos e ouvidos, sabemos
que alguém passou pelos mesmos momentos, felizes ou não. E isso é importante, e
é talvez, a razão do seu enorme sucesso. Ela escreve com a verdade, com a
sinceridade das sensações, dos momentos, com a tempestuosidade da felicidade
eterna e mostra-nos como ela pode serenar, mudar, ensinar. Não esconde, não
finge, não suaviza. A sua escrita é crua e verdadeira, é humana e
enternecedora, e é por isso que é impossível esquecer o que ela nos conta.
Durante vinte anos conhecemos duas jovens que crescem frente
aos nossos olhos. Vemo-las apaixonarem-se, zangarem-se, sofrerem. Guardámos os
seus medos e receios. Sorrimos pelas vitórias. A história delas e dos que as
rodeiam torna-se a nossa história, torna-se algo pessoal pois com elas vemos o
verdadeiro fulgor da amizade, o sentido mais puro da palavra, a crueza da
sensação de gostarmos tanto de alguém como se fosse a nossa outra parte. Esta é
a lição que tirarão deste livro. Que a Amizade quando real vale e vence tudo,
ultrapassa todos os obstáculos, significa dar e receber e fazer escolhas
difíceis.
Esta história irradia através das páginas uma sensação de
calor eterno mesmo nos momentos mais duros que nos prende às recordações de
Verões passados, que nos leva com as personagens a recordar e a sorrir com
nostalgia. Ao criar uma narrativa que se vai separando desses Verões ao mesmo
tempo que os agarra, a autora nunca nos deixa esquecer, leva-nos a compreender
escolhas, a revoltar-nos com as encruzilhadas do destino. Porque esta é uma
história onde o destino escreve mesmo por linhas tortas, que nos mostra que
estar destinado está relacionado com quem somos, com as nossas decisões, com o
destino de quem nos rodeia. Não é uma narrativa de fatalidades, é sim, uma que
nos permite pensar “E se?” e perceber que temos de seguir em frente porque
façamos o que fizermos cada um escreve a sua vida à sua maneira e que isso pode
mudar a vida dos que nos rodeiam.
Com personagens reais, adultos que amadurecem, crianças que
crescem até se tornarem adultos, este livro é sobre a vida e as relações e cada
uma destas personagens nunca nos deixa, seja por interferência da autora, seja
pela interferência da madrasta de Caitlin. Temos aqui um elenco vasto de
pessoas, os amigos e companheiros de infância, os amigos da universidade e das
aventuras, os namorados, maridos, pais e irmãos, temos aqui a história de toda
uma geração e com cada um deles aprendemos algo, saboreámos momentos, desejámos
voltar para trás ou ansiámos pelo futuro. Caitlin e Vix são completamente
diferentes. Uma é louca, outra racional mas não deixaram de partilhar, não
deixaram de se adorar e por isso temos de as louvar.
Uma autora que espero que visite mais vezes as prateleiras
das nossas livrarias, Judy é alguém que escreve verdadeiros tesouros, uma
autora que qualquer pessoa, em todas as idades devia ler uma vez na vida. E, Irmãs de Verão é aquele livro que
oferecemos à melhor amiga, ao primeiro amor, a quem esteve connosco em todos os
momentos. É aquele livro que trará memórias e um olhar perdido no passado. É o
livro que guardámos para as ocasiões em que as saudades e a vida apertam.
6*